sábado, 29 de maio de 2010

-Segredos-

-Espere está bem? -Disse ele. -Eu preciso de um tempo. -Não respondi, afinal, ele saiu sem esperar uma resposta.
Vesti um dos casacos no armário e calcei uma sandália qualquer, me arrependi de não ter trago uma ou duas adagas assim que comecei a andar pelos corredores escuros. Sentia olhos em mim enquanto caminhava, ficava em alerta a qualquer menor movimento nas sombras. Droga! Quem seria tão estúpido pra andar desarmado num território de vampiros a noite?! Vi uma sala iluminada. Eu me lembrava dela. Entrei.

Aquela era a sala de espera onde eu havia esperado por Armand na primeira vez que vim ao clã. A espada Samurai continuava sobre a lareira. O meu instinto e minha curiosidade me guiavam a espada, como se esta me chamasse. Caminhei até ela como que enfeitiçada. Estava prestes a tira-la da parede para desembainhá-la quando ouvi passos no corredor. Escondi-me no vão entre no pequeno vão entre a parede e a estante, tive que ficar agachada por o vão ser pequeno, mas pelo menos assim eu não seria descoberta.

Três homens entraram na sala, todos de ternos negros e sapatos engraxados, apenas um tinha os sapatos completamente limpos, os outros tinham passado pela terra molhada no jardim, eles sentaram-se.

-Então Armand. Por que exatamente estamos aqui? -Perguntou a voz que reconheci como a de Vladimir.
-Sabe porque os chamei Vladimir. O que pretendia quando a trouxe?
-Eu? Nada meu caro, apenas negócios, digamos assim.
-Espero que seus negócios não envolvam destruir este clã, pois se for isso não tenha esperanças.
-Seu clã não é tão estável e você sabe disso, Armand. Então sugiro que não me tente.
-Parem vocês dois. -Disse o terceiro homem. Eu sabia que conhecia esta voz, só não sabia de onde. - Quem a trouxe e porque não é importante. O que importa é que ela vai fazer apenas o que quiser e não o que esperamos que ela faça. É apenas isso. Ela esta de volta e isso é um risco a todos.
-Ora, ora. Se não são os três patetas?!  -Kara.
-É uma reunião privada, Kara.
-Não seja inconveniente maninho. Tenho tanto direito de estar aqui quanto você. -Disse andando em minha direção, fazendo com que me encolhesse mais. Silencio. O clima na sala parecia estar tenso e pela posição dos sapatos notei que Kara e Armand se encaravam, ou seja, uma briga estouraria a qualquer momento.
-Já chega disso. Quero saber o motivo real de eu ter sido tirado da cama a está hora! -Disse o homem que não reconhecia pondo-se de pé.
-Acalme-se Henri. Não pretendo manchar a tapeçaria com o sangue de meu irmãozinho. -Disse Kara afastando-se.
-My lady. Não quero ser rude, mas não pretendo passar minha noite discutindo qual dos três terá este clã, até porque isto de nada me interessa.
-Se interessará meu caro. Se interessará. -Disse Kara aproximando-se ainda mais dele.
-E poderia me dizer o por quê? -Ela agora estava quase grudada nele.
-Porque temos uma nova hospede no clã... -Disse ela insinuante. Mexi-me para tentar ver e ouvir melhor, porem acabei balançando a estante. O movimento não foi despercebido por nenhum dos três.
-Diga-me Armand, seu clã tem problemas com ratos? -Disse Vladimir. Encolhi-me ao perceber os movimentos em minha direção.
-Não que eu saiba. -Respondeu ele.
-Então acho bom olhar melhor. Achei uma ratinha. -Disse Kara puxando-me pelo braço. Depois dela tirar-me de meu esconderijo libertei-me e corri, porem bati de frente com o homem do qual não reconhecia a voz. Imóveis olhamo-nos como se já nos conhecesse-mos.

"Diga-me quem és e não com quem andas."

sexta-feira, 28 de maio de 2010

-sonhos ruins-

Eu estava vestindo uma camisola fina coberta apenas por um sobretudo negro, andava descalça pela rua escura e deserta, a névoa me dava a sensação incomoda de estar sendo observada. Eu reconhecia as casas a minha volta, mas não consegui lembrar do onde. Andei mais depressa e conforme eu andava mais densa ficava a névoa. Eu já estava correndo e não podia mais enxergar a rua, algo puxava a barra de minhas vestes rasgando-as, alguma coisa forte agarrou-se em mim.

-Venha Lane. Venha. -Sussurrou em meu ouvido. Tirei o sobretudo rápido virando-me, mas a coisa se afastou rápido, como um vulto na névoa. Agora, apenas de camisola, andei de costas observado o meu redor. Meu corpo aquecia-se, parecia que eu estava muito perto de algo quente e a voz melodiosa do vulto continuava sussurrando. -Venha. Venha Lane.
-Vem, Lane. -Disse a voz doce de uma criança me fazendo virar. Eles estavam lá. Meus pais, meu irmão e minha irmã. Estavam na porta da casa em chamas, o fogo os estava consumindo como em uma fotografia. Myu estendia sua mão pequenina chamando-me. -Vem, Lane.
-Myu. -Disse dando um passo a frente.
-Venha, filha. Não tenha medo. Estamos aqui. -Disse meu pai.
-Papai. Mamãe. Estou indo. -Disse debilmente, aproximando-me.
-Venha, Lane. Venha.-Disse Sanji. Estiquei minha mão tentando tocá-los, mas nessa hora o fogo os consumiu por completo e algo jogou-me para trás, não consegui alcançá-los.
-Você nos abandonou! -Gritou Myu.
-Lane! Lane! -Gritavam mil vozes  no escuro. Tampei os ouvido e tentei correr.
-Não! Não! -Tentava dizer mais alto que as vozes. Parei. Silencio total.
-Venha Lane, venha. -Disse o sussurro.
-AHHHHHHHHHHHHHHHHHH. -Acordei gritando e encharcada de suor, abracei os joelhos escondendo o rosto.
-Lane? Lane posso entrar? Está tudo bem? -Pergunta Armand batendo a porta.
-Entre. Estou bem. Foi só um pesadelo. -Disse, quando ele abriu a porta.
-Tem certeza?-Perguntou entrando e fechando a porta.
-Desculpe acordá-lo. -Disse envergonhada puxando a coberta. Ele sorriu.
-Eu não durmo.
-Ah... -Agora eu realmente me sinto uma idiota.
-Quer me contar com o que estava sonhando?
-Minha família.
-Olha, vou ficar com você até adormecer. Tudo bem? -Fiz negativo com a cabeça.
-Não quero voltar a dormir. -Disse beijando-o.
-Lane... -Ele tentou se levantar.
-Não Armand. -Disse puxando-o de volta. Bejamo-nos.

"Com uma palavra a dor, com um toque o pecado, com um beijo o amor"

sexta-feira, 14 de maio de 2010

-Meia Noite-

Passeávamos pelos jardins sem dizer palavra, apenas aproveitando a companhia um do outro e assistindo o Sol poente esconder-se ao longe, deixando outra vez o vento frio da noite tomar Paris. Depois de andar um pouco entre as plantas que perdiam suas folhas sentamos abaixo de uma enorme árvore. Ele abraçou-me acariciando meus cabelos.

-O que quer fazer agora? -Perguntou.
-Sei que vai achar estranho, mas desde que cheguei a Paris não tenho visto ação... Gostaria de voltar a lutar.- Disse sinceramente. Ele sorriu.
-Então lutaremos. Quando a Lua chegar ao centro do céu serei seu oponente. -Disse ele.
-Obrigado. Alguma ideia do que fazemos até lá? -Perguntei travessa. Ele apenas sorriu e beijou-me.

Deitamos na grama trocando caricias até ouvirmos as badaladas de um sino distante anunciando a meia noite.

-Que comece o jogo. -Disse ele escondendo-se nas sombras. Percebi que seria pra valer, levantei-me e fechei os olhos, concentrando-me em ouvi-lo.

Ouvi um farfalhar de folhas, ele vem por baixo pela direita. Defendi, mas não consegui rapidez suficiente para acerta-lo. Droga, ele fugiu e eu tentei acompanhar sua velocidade, mas apenas consegui ter um leve vislumbre do tecido de seu sobre tudo ao tentar agarra-lo. Mudei de  estratégia e corri na direção oposta, escondendo-me nas folhagens, respirei fundo e imóvel aguardei por seu próximo movimento.

-Buh! -Disse ele em meu ouvido acertando-me. -Não tente se esconder de um vampiro. Posso sentir sua presença e ouço seu coração a até um quilometro de distancia! -Disse ele atacando-me. Defendi e tentei ataca-lo.
-Vou me lembrar. -Disse investindo contra ele, mas quase me desequilibrei quando ele desapareceu. Ele era muito mais rápido que eu.
-Não tente vencer um vampiro na agilidade ou na força, porque só conseguirá no máximo igualar-se a um de nós, o único modo de vencer um vampiro é pela inteligencia, com um plano bem elaborado e anti-falhas.
-Sem improviso? -Perguntei tentando prendê-lo, mas foi ele quem me prendeu junto a ele me imobilizando, com seus lábios muito próximos de minha garganta.
-Sem improviso. -Sussurrou e depois deu um beijo de leve em meu pescoço jogando-me para frente. -Já basta por hoje?
-Só se prometer que faremos isso todas as noite até eu conseguir vencê-lo! -Disse.
-Então passaremos a eternidade lutando enquanto podíamos aproveitar melhor o tempo. -Disse ele segurando-me pela cintura. Sorri.
-Teremos bastante tempo para isso também. -Respondi.
-O tempo é subjetivo. -Respondeu ele beijando-me.
-Quanto tempo teremos juntos? -Pergunte sem perceber pra onde guiava a conversa. Ele parou de beijar-me.
-O que quer dizer com isso?
-Quero dizer que você tem toda a eternidade, nunca vai envelhecer e morrer, eu vou ferir-me, vou envelhecer e vou morrer enquanto você continua a ser o lindo patrono do clã Lafayete. Sou apenas uma humana entre vampiros.
-Até onde vai levar isso, Lane?
-Até você admitir que deve me tornar vampira. -Respondi sem acreditar no que falava. Ele também ficou perplexo com minhas palavras, tanto que se afastou e virou-se, não disse nada.
-Não pode estar falando serio.
-Por que não? -Perguntei arriscando um paço para mais próximo dele.
-Porque ser vampiro não é tão romântico quanto você faz parecer.
-Se eu não for vampira não poderemos ficar juntos. Quero ficar com você pra sempre. -Disse dando mais um paço.
-Não. Você não entende.
-O que não entendo? Por acaso não quer ficar ao meu lado?
-Não complique as coisas! -Gritou ele segurando-me pelos ombros. -Se tornar um vampiro não é uma decisão que possa se tornar em uma noite. Não é simples. Te, coisas que não sabe! Torna-la vampira seria o mesmo que condena-la as trevas. Você não veria mais o Sol!
-Não tem ninguém da minha vida humana a quem queira. O Sol seria substituído pela Lua e você seria toda a companhia que preciso. -Disse acariciando seu rosto.
-Não entende o que está me pedindo. Não posso transforma-la. Não posso. -Disse ele. Sorri.
-Vou esperar. -Respondi abraçando-o.

"Morrer é um desperdício; matar é uma arte e viver é um delírio."

quinta-feira, 13 de maio de 2010

-Lullaby-

Andei a noite toda pelos parques de Paris, tentando encontrar uma solução. Já havia pensado em dizer a ele o real motivo de eu estar em Paris, pensei em tentar fugir, quem sabe para a América, havia pensado em desafiar Vladimir e aguentar as consequencias, tantas coisas passaram pela minha mente.

Andava lentamente pelo Champ de Mars quando comecei a ouvir uma melodia suave, aproximei-me do quarteto que tocava fronte a Torre Eiffel, a melodia suave enchia o local e me deixei viajar no som doce que cantava amor e paz, coisas tão distantes nesta Era...

"Hush my love now don't you cry
Everything will be all right
Close your eyes and drift in dream
Rest in peaceful sleep
If there's one thing I hope I showed you
If there's one thing I hope I showed you
Hope I showed you
Just give love to all
Just give love to all
Just give love to all"
 
Sorri enquanto os músicos continuavam a encher Paris de uma paz que nunca senti antes. Depositei um pouco de dinheiro no pote dos homens e afastei-me devagar. Sem perceber meus pés me levaram a mansão Lafayete, e quando dei por mim Armand estava parado a minha frente na soleira da porta, seu terno parecia pela primeira vez desalinhado e o Sol em seu rosto tornava o azul de seus olhos mais aparente.
 
Parei incapaz de dizer ou fazer qualquer coisa, apenas olhei-o, tentei falas, mas minha boca estava seca. Ele passou pela soleira da porta a passos firmes e abraçou-me.
 
-Está tudo bem. -Disse ele. Chorei como uma criança, sem motivo aparente, apenas agarrei-me a sua camisa e deixei que minhas lágrimas jorrassem.
-Não sei o que fazer. Armand, não quero voltar lá. -Choraminguei ainda sem saber o que estava fazendo.
-Não tem que voltar. Fique. -Disse ele acalmando-me. -Durma, Lane. Quando acordar estará melhor. -Não estou com sono, tentei dizer, mas então percebi que na verdade estava muito cansada, meu corpo começou a enfraquecer e antes que percebe-se havia adormecido. E nos sonhos ouvia a voz de minha mãe a cantar a musica que ouvi mais cedo, está foi minha canção de ninar.
 
Acordei ao pôr do Sol em um quarto com paredes cinza-escuro, as cortinas eram negras de um tecido fino e cobriam parcialmente a porta da sacada, a cama king size era coberta por um edredom negro e lençóis de seda no mesmo tom, as capas dos múltiplos travesseiros variavam entre branco, negro e vermelho. O quarto possuía como moveis dois criados mudos, com um abajur sobre cada um deles, uma comoda, um espelho sobre esta, um armário, um sofá ao pé da cama e uma cadeira de balanço perto da sacada, onde sobre ela repousava um hobie negro com um bilhete. Levantei-me e peguei o pequeno cartão.
 
"Lane, no guarda-roupas tem algumas roupas que pode escolher a vontade, no banheiro encontrará as coisas para seu uso pessoal, espero que aprecie o quarto, o meu fica a sua direita. Quando estiver pronta a espero na sala.
Armand."
 
Sorri e fui banhar-me para me juntar a ele. Os azulejos do banheiro variavam entre o negro e o branco, as demais coisas exceto a banheira, os sabonetes e sais de banho eram negras, toquei as toalhas de tecido fino e depois sentei-me na borda da banheira tocando com a ponta dos dedos a água quente. Sorri e depois de trancar a porta comecei a despir-me para o banho.
 
Entrei na água lentamente, deixando que meus músculos relaxassem ao sentar-me, as bolhas de espuma formavam-se sobre mim. Mergulhei lentamente e fiquei submersa o máximo de tempo que consegui, depois levante, tomei uma ducha quente para tirar o sabão e sequei-me, sai do banheiro vestida com o roupão negro pendurado no cabideiro e escolhi um vestido negro simples no armário. Prendi meu cabelo no alto, deixando algumas mexas penderem livres e após aprovar-me no espelho desci até a sala principal, onde o mordomo me indicou a direção para a sala que Armand havia mencionado.
 
Lá estava ele, sentado sobre uma cadeira alta feita de ouro e seda preta, Parecia um príncipe em seu trono, com a luz fraca do por do Sol entrava por uma janela atrás dele e uma taça de vinho na mão. Sorriu ao me ver e parada no batente, sorri ainda incapaz de falar.
 
"Ame sua família, preze seus amigos e respeite seus inimigos, pois um dia toda sua família partirá, seus amigos lhe trairão e seus inimigos tentaram derrota-lo."

-Principios-

Seco a lágrima estúpida que escapuliu de meus olhos após narrar a Armand parte de minha historia.

-Lane. Eu sinto muito. -Disse ele abraçando-me, por incrível que parecesse sua pele fria junto a meu corpo dava-me calor e segurança.

Eu não queria sair deste abraço jamais, porem aos poucos ele se afastou e ainda muito próximos olhavamo-nos nos olhos, uma de suas mãos acariciava meus cabelos e a outra estava sobre a minha, o espaço entre nós foi diminuindo vagarosamente, fechei os olhos quando sendo senti sua respiração acelerada em meus lábios. Desta vez ele não se afastou.

Beijá-lo era a melhor sensação do mundo. Seus lábios exerciam uma leve pressão sobre os meus, sua língua hora lenta, hora ligeira compunha um bailado junto a minha, nossas mãos estudavam o corpo um do outro enquanto a distancia entre nois ficava menor, aprofundando o beijo. Separamo-nos quando fiquei sem fôlego, olhei-o, mas este desviou o olhar afastando-se de mim.

-O que houve? -Perguntei tentando fazer com que seus olhos tristes olhassem pra mim.
-Não é nada. -Disse ele levantando-se e dando alguns passos. Olhei para o chão.
-É minha culpa. -Disse.
-Não! Apenas estou sendo tolo. Não há nada errado. -Disse ele ajoelhando-se a minha frente e pegando minhas mãos. Olhei-o. -Então beije-me de novo. -Disse aproximando nossos lábios mais uma vez. Outro beijo iniciou-se, agora mais demorado e sentido.

Trocamos beijos e caricias por pouco mais de uma hora. Até que Kara apareceu.

-Ora se não é um feliz casal? -Diz ela fazendo com que nos separemos, Armand ia dar alguma resposta, mas calou-se ao ver Vladimir ao lado dela. -Não acha Vladimir? -Diz complementando a frase.
-Com certeza. -Diz ele rispido. -Acho melhor voltarmos ao baile. Se me lembro bem você me prometeu uma dança, não é Lane?
-Claro. -Disse sem querer me afastar de Armand.

Levantamos e Vladimir me estendeu a mão que aceitei, porem Armand continuava a segurar-me. Eles se encararam por alguns segundos, como se um estivesse tentando estudar a mente do outro. Então Armand soltou-me e eu fui guiada para a pista de dança por Vladimir.

-Qual o plano? -Perguntou ele.
-Que plano?
-Ainda se lembra do porquê de estar na França?
-Claro, eu... -Baixei os olhos entendendo de que plano ele falava.
-Ótimo, qual o seu plano?
-Ainda não sei... É muito cedo.
-Não. Já é tarde! Vou dizer o plano. Você vai fingir que nós discutimos ou algo do genero e você saiu de casa, então vai pedir abrigo com os Lafayete. Lhe darei um mês para que aprenda as passagens e os horários do castelo, neste meio tempo vai aprender também como vencê-los. Vai se fortificar e nos corresponderemos semanalmente até o dia do ataque.
-E se eu for contra isso? -Perguntei fazendo pé firme. Ele sorriu e falou ao meu ouvido.
-Quer ser responsável pela morte de mais quantas pessoas? Se eu matá-la, o que diga-se de passagem seria um desperdício, ele ficaria desnorteado e mais vulnerável, ou eu posso envenená-los e fazê-lo pensar que a matou. O que prefere? -Afastei-me dele dando-lhe uma bofetada e corri para cima deixando Vladimir e os convidados perplexos no salão.

Chorei como nunca tinha pensado voltar a chorar e levantando a cabeça peguei um sobretudo e as armas menores e pulei a janela. Sim. Eu iria cumprir o plano de Vladimir, talvez eu pudesse dar informações erradas, assim Armand poderia vencer. Não vou desistir. Não vou deixar que Armand morra.

"Ame como nunca amou, sorria como nunca sorriu, chore como jamais chorou, viva como se fosse seu último dia e morra amanhã para que tudo tenha valido a pena."

quarta-feira, 12 de maio de 2010

-Memories-

10 anos atrás em algum lugar ao Sul do Japão...

-Mamãe! Mamãe! Olha a flor que eu achei! -A pequena Lane correi até sua mãe que sorri docemente acariciando seus cabelos loiros.
-É linda, filha. -Disse ela ainda sorrindo.
-Olha Myu! Não é linda?
-Lin-da! -Diz q pequena tocando a flor.
-Dê-me Lane. Vou colocá-la em um vaso pra você. Por que não olha sua irmã um pouco.
-Tudo bem mamãe. -Responde ela sorrindo enquanto a mãe se afasta com a flor.
-Lane! -Diz a pequena Myuki.
-Você sabe meu nome! Fala de novo Myu! Fala Lane!
-Lane! As duas riram rolando na grama.
-Onde estão minhas meninas? -Grita um homem alto de cabelos loiros que vinha chegando com um garoto mais jovem, porem com a mesma altura e músculos.
-Papai! -Gritam as duas e Lane corre para pular no colo do pai.
-Minha princesa! Como foi seu dia? -Diz ele segurando-a
-Eu achei uma flor linda!
-Que bom! E você Myu?
-Papai! -Ele põe Lane no chão e pega Myu que está com as mãozinhas no ar pedindo colo.
-Sanji! Como foi o treino? -Pergunta Lane curiosa.
-Como sempre.
-Você é tão chato!
-A é?! Vem aqui que eu te mostro! -Ele correu atrás dela e os dois se atracaram no chão brincando de luta, Sanji venceu-a rapidamente prendendo-a ao chão.
-Me solta Sanji! Me solta!
-Antes diz que eu sou o mais forte!
-Tá legal! Você é o mais forte Sanji!
-Sanji-Sama!
-Sanji-Sama! -Gritou.
-Assim é melhor. -Disse ele soltando-a.
-Um dia você vai se arrepender! Eu vou ficar forte e vou vencer você! Vai ver!
-Rá! Vou esperar sentado! -Disse ele enquanto ela se afastava.

23:00 Hora de Tokyo

Todos dormiam tranquilamente em suas camas, menos a pequena Lane, que naquela noite fora assombrada por pesadelos e levantara-se para beber água.

Quando subia novamente as escadas ouviu um grito e sua irmã menor começar a chorar, então correu para o quarto da pequena.

-Myu?! Myu?! O que houve? -Chegando lá viu sua mãe ensanguentada no chão e Myu chorando em seus braços, também suja de sangue.
-Corra Lane! Corra! -Gritou a mãe.
-Mas, mamãe...
-Vá! -Dito isso Lane correu o mais rápido que pôde, ouvindo o bater de laminas nos corredores e sentindo um cheiro de fumaça que antes não tinha sido capaz de sentir.

Assim que saiu da casa, caiu ao tentar olhar pra trás e se deparar com o segundo andar em chamas. De dentro da casa podia ouvir ainda o choro da irmã e os gritos da mãe.

-Mamãe! -Gritou tentando se aproximar, porém quando ia chegar a porta uma explosão no 1º andar jogou-a para trás. Ao olhar a casa mais uma vez deparou-se com tudo em chamas e só podia ouvir o estalar das brasas.

-Mamãe! Papai! -Gritava a pequena machucada e com medo no gramado da frente. Ao longe pode ouvir as sirenes da policia e bombeiros que já haviam sido chamados. E correndo as janelas do 2º andar com os olhos pôde ver na janela do que antes era seu quarto um vulto negro entre as sombras empunhando uma espada samurai. Depois disso foi só escuridão.

-Mamãe...


"Quando crianças somos estimulados a acreditar em um mundo bom, de contos de fadas.
Quando crescemos todos esses sonhos são arrancados de nós como se jamais tivessem existido."

-Lua-


Deveria ser mais ou menos duas da tarde quando fui acordada.

-Está andando tanto com os vampiros que já aderiu a seus hábitos?
-O que você quer Vladimir? -Perguntei sem levantar-me.
-Hoje ofereceremos uma festa em homenagem a Kara. Gostaria de contar com sua presença em tempo integral no salão.
-Por que os Teodore fariam uma festa para um Lafayete? -Perguntei meio adormecida.
-Não precisa entender o motivo. é apenas aparecer e estar deslumbrante. -Disse ele passando a mão sobre meus cabelos, mexi-me com a intenção de fazê-lo se afastar. Deu certo. Ele bufou. -Vai estar lá?
-Sim!
-Ótimo! -Disse ele de mau humor e bateu a porta ao sair.
-Ótimo! -Imitei-o e ri de mim mesma. Divertindo-me como uma tola.

22:45 Hora de France

Observei o salão do alto da escada, as cores escuras dominavam o local. Procurei por instinto avistar Armand, mas não o encontrei.

-Os Lafayete ainda não chegaram. -Disse Vladimir atrás de mim.
-E não acho que virão. Kara não é bem vista no clã. -Disse.
-É? Dê uma olhada em quem acabou de chegar. -Disse ele apontando para a porta principal. Todos no salão diminuíram o volume das conversas e deram espaço observando os recem chegados.

Passando por entre a multidão estavam Armand de braços dados com Kara, sendo seguido por Bartolomeu, Greta e Rafael. Observei-os cruzarem o salão lentamente, poderia ficar ali parada para sempre se Vladimir não me desperta-se.

-Venha, Lane. -Disse ele me estendendo a mão do pé da escada, desci e aceitei sua mão.

Passamos pela multidão e nos encontramos com os Lafayete no centro do saguão. Armand olhou-me e eu retribui seu olhar.

-Você deve ser Kara. é um imenso prazer conhecê-la mademoiselle. -Disse Vladimir segurando a mão de Kara e beijando-a gentilmente.
-O prazer é inteiramente meu, monsieur Teodore. -Respondeu ela suave. Estranhei.
-Chame-me Vladimir. -Ela sorriu. -Prazer vê-los, Armand, Bartolomeu, Rafael, Greta. -Eles não se deram ao trabalho de responder, e nem ao menos sei se Armand escutou, nossos olhos continuavam pregados um ao outro.
-Será que me permite roubar sua dama para uma valsa, Vladimir? -Pergunta Armand.
-Só se me permitir a mesma honra. -Respondeu Vladimir sorrindo ao entregar minha mão para Armand recebendo a de Kara. Partimos para direções opostas do salão.

-Lane... -Disse ele suave, levemente constrangido enquanto bailávamos.
-Sim?
-Você... Gostaria de sair um pouco daqui? Digo, para conversarmos melhor. -Olhei para Vladimir de soslaio, e ao constatar que ele estava entretido demais com Kara para perceber minha ausência aceitei o pedido de Armand e lentamente valsamos até a porta que dava no jardim.

-Então, o que queria falar? -Disse tocando um galho verde, pouco afastada de Armand.
-Não sei por onde começar.
-Pelo principio é sempre uma otima escolha. -Disse olhando-o e sorrindo. Ele sorriu e guiou-me até um dos bancos.
-Que tal você me contar? -Pergunta ele.
-Contar o que? -Digo olhando as estrelas.
-Sua historia. Sei que não é uma Teodore e realmente gostaria de saber o que faz aqui. -fiquei sem fala. Apenas a observa-lo por alguns segundos. Não sabia o que dizer. Como dizer.
-É uma historia longa. -Disse incapaz de olhá-lo nos olhos. Ele levantou meu queixo fazendo-me voltar a encara-lo.
-Temos toda a noite. -Disse gentilmente. Sorri.

Eu realmente queria contar-lhe tudo sem nada esconder. Queria acabar com os segredos, mas não sabia se era capaz. Olhei a Lua buscando uma solução e depois de um suspiro comecei a falar.

"Quando as estrelas caírem do céu em uma chuva de prata saiba que elas são as lágrimas que
derramo por todo o amor que sou incapaz de lhe demonstrar"

terça-feira, 11 de maio de 2010

-Perguntas-

-Então Lane, como foi sua noite? -Pergunta Vladimir assim que entro no quarto.
-Pelo que me lembro este ainda é meu quarto.
-Pelo que me lembro você está sendo paga pra descobrir as fraquezas dos vampiros e não se agarrar com Armand na frente de minha casa.
-Sei o que tenho que fazer.
-Então por que ainda não vi nenhum resultado? Vamos Lane. O que tem pra mim? -Perguntou ele levantando-se e me encarando nos olhos.
-A irmã de Armand voltou. Parece que ela quer o controle do clã e é forte o suficiente para desafia-lo, tanto que o fez esta noite, seu nome é Kara Lafayete e ela deveria ser a herdeira dos Lafayete se Armand não tivesse nascido. -Disse sem medir minhas palavras.
-Otimo. -Disse ele com um sorriso vitorioso e fogo no olhar. -Com Kara de volta a cidade o clã Lafayete ficará dividido. Logo Paris estará sob novo comando. Continue com o bom trabalho Lane. -Disse ele passando por mim. -Droga! Eu sei que estou cumprindo meu trabalho, mas porque sinto-me tão mau por isso?!

--//Enquanto isso no Clã Lafayete(Armand POV)//--

Quando cheguei ao clã, Kara estava sentada na cadeira que nosso pai ocupava antes de mim, ao entrar ela me olhou sorrindo. Fingi não vê-la e me afastei lentamente.
-Por que? -Ela pergunta. Fala tão doce e pausadamente que por um momento me permito lembrar da Kara que conheci no passado.
-O que? -Digo de má vontade lembrando quem me fala.
-Por que ela Armand? -Ela agora estava atrás de mim, falava suavemente.
-Não sei do que está falando. -Disse tentando sair de lá, porém ela me segura pelo braço ficando a minha frente.
-Sim,  você sabe. Quero saber o que viu de especial na garota.
-Isso é assunto meu, Kara. Apenas fique longe dela. -Soltei meu braço e me distanciei um pouco dela.
-Claro. Por que me meteria com uma estranha? Sim, pois é isso o que ela é. Você por acaso conhece a historia dela? A família dela? Sabe por que ela está com os Teodore? Mas essas simples informações que vão além do primeiro nome não lhe interessam, não é? Nada o impede de entregar a ela todas as informações necessaris para acabar conosco, afinal o que a melhor espadachim japonesa poderia fazer com essas informações?
-Do que você está falando?! -Disse segurando-a pelo braço com força. Ela riu.
-Por que não pergunta a ela? -Disse livrando-se de mim e desaparecendo no corredor. Respirei fundo e fui caçar.

Já fazia muito tempo que não me alimentava, então não busquei uma presa especifica, apenas pulei para a noite e ataquei o primeiro coitado que cruzou meu caminho. Não tinha porque conter meus instintos. Essa era uma cidade sem lei. Quem caminha-se sob a lua pertencia a noite, e quem pertencesse a noite era minha presa.

Quando terminei meu banquete notei que alguem me observava, talvez estivesse lá o tempo todo, mas não importava. Seja quem for não seria tão tolo a ponto de se aproximar de mim.

--//(fim de Armand's POV)//--

Depois de vê-lo literalmente devorar aqueles homens fugi pelos telhados temendo que ele me visse. Eu tentei a todo momento evitar pensar no lado vampiro dele, mas agora...

Corri o mais rapido que pude e quando parei me vi frente a porta da antiga Notre dame. Agora era só mais um templo abandonado. Uma miragem do que havia sido no passado quando milhões de fieis passavam por suas porta e ajoelhavam-se frente ao altar. O que mesmo eles buscavam? Deus? Apenas algo inanimado, intocável que vivia além do céu, além do compreensivel. Se o Deus bondoso a quem essas pessoas se ajoelhavam realmente existiu ele já as tinha abandonado antes mesmo da nova era. Lembro-me da cruz de prata que minha mãe carregava no peito.

--//flash back//--

-Mamãe, o que é? -Perguntei tocando levemente o pingente.
-Apenas uma lembrança do Deus morto. -Ela respondeu.
-Quem é Deus?
-Deus? Algo distante demais, apenas algo em que os humanos precisam acreditar para manter-se no caminho. É algo inalcansavel. Algo que existia apenas para que os homens pudessem acreditar no amanhã. Ele já deixou de ser útil. Se algum dia existiu, ou se cansou dos humanos, ou morreu a muito tempo. -Respondeu ela sorrindo. Sorri ainda sem entender o significado de tais palavras.

--//fim do flash back//--

Olhei o grande homem pregado na cruz. Será esse o Deus dos homens? Pra mim ele parece apenas um morto. Apenas alguém que mataram sem motivo. Apenas um homem de mármore. Fechei os olhos ouvindo apenas os barulhos da antiga construção se deteriorando em ruínas e dos animais que rondavam pelos cantos escuros. Deixei assim a noite me levar de volta a minhas lembraças do passado.

-Mamãe... -Sussurrei para o nada.


"Mesmo no caos ainda é possível encontrar a pureza, esperança
e inocência nos olhos de uma criança. E é isso que nos impulsiona a continuar lutando"

-Murder-

Depois da chegada da vampira denominada Kara o clima na mesa ficou tenso. Ela e Armand apenas se encaravam sem dizer palavra.

-Então meu irmão, o que andas fazendo? -Perguntou ela provando o vinho espesso.
-Nada que lhe apeteça. -Respondeu ríspido, encarando-a.
-Ora, onde estão os bons modos que até pouco demonstrava na presença dessa humana?
-Também não cabe a você julgar meus modos. Afinal, qual a finalidade desta sua visita? -Ela riu.
-Nada que lhe apeteça. -Disse imitando-o ao fita-lo maliciosa. Ele levantou-se e bateu as mãos em punho sobre a mesa, fazendo com que todos os olhares se voltassem pra ele.
-Saiam. -Todos os vampiros, menos as crianças e Bartolomeu levantaram-se e sairam. Olhei-o, mas ele não parecia me enxergar. Notei que seus olhos estavam vermelhos.
-É melhor se acalmar maninho.
-Ou o que? -Falou Armand entre dentes.
-Pode ser o lider deste clã, mas não esqueça quem te ensinou a lutar. -Falou ela ao pé de seu ouvido, tocando-o levemente no ombro direito. Ela tinha ido parar naquela ponta da mesa com um movimento que não fui capaz de notar.
-Tire suas mãos de mim Kara. -Disse ele segurando-a pelo pulso. Ela riu vitoriosa livrando-se e sentando sobre a mesa na frente dele, que virou-se para encará-la.
-Foi tolo se pensaste que lhe deixaria com um lugar que é meu por direito. -Disse ela.
-Esse clã nunca foi seu Kara. Eles o escolheram como sucessor. Não é algo que se possa remediar. -Disse Bartolomeu controlando a voz ao olha-la com os olhos vermelhos.
-Não desafie-me Bartolomeu. -Disse ela prendendo-o com o olhar.
-Deixe-o! -Bradou Armand com um urro furioso. Ela vagarosamente piscou desviando o olhar para Armand, porem eu tinha a ligeira sensação de que o fogo nos olhos dela dirigiam-se a mim, senti meu corpo encolher-se por instinto. Ele ao perceber pegou-a pelo pescoço, prendendo-a a parede. Ela riu.
-Não seja hipócrita! -Gritou ela fazendo-o tombar sobre a mesa em um movimento rápido demais para meus olhos. -Sempre fui e sempre serei a mais forte! E você Armand sempre será o filhinho mimado.
-Como ousa desafiar-me em minha própria casa?! Ficou longe por muito tempo Kara. Não sabe mais de nada! -Disse ele tentando levantar-se, porem, ela parecia mantê-lo preso por algum tipo de magia, eu não sabia se reagia em sua defesa ou se apenas observava como as crianças.
-Ainda conheço suas fraquezas. E ainda sou a mais forte. Lembre-se disso da próxima vez que for me desafiar. -Disse ela debruçada sobre ele. Logo após esta sumiu e Armand pôde se levantar.

Ele saiu da mesa de olhos fechados e respirando fundo enquanto nós o observávamos, quando abriu os olhos estes tinham voltado a seu azul escuro natural.

-Já tivemos agitação demais para uma noite. Acho melhor levá-la para casa agora Lane.-Disse ele olhando-me.
-Hum, tudo bem. -Despedi-me e logo após pegar meu casaco eu e Armand andávamos lado a lado na Champs-Élysées

-Então... Aquela era sua irmã? -Perguntei não conseguindo conter a curiosidade.
-Mais ou menos. Ela é mais como uma ex-noiva. -Respondeu ele ainda distante.
-Entendo. -Disse sem realmente entender. Ele olhou-me.
-É uma longa e complicada historia, Lane.
-Gosto de historias, e podemos ir pelo caminho mais longo. -Ele sorriu levemente, começando a contar a historia.

--//Narração de Armand//--

Eu nasci três anos depois de Kara, naquela época o clã Lafayete não era tão respeitado como hoje, ele não era sequer conhecido entre os humanos. Os vampiros eram conhecidos somente entre os vampiros e em nossa sociedade nosso clã era o mais antigo, seu herdeiro ganharia quase que poder total sobre os vampiros se não fosse por o clã Clermon ser mais forte.

Kara era inicialmente a herdeira Lafayete que casaria-se com Bartolomeu, um herdeiro Clermon, para promover a paz entre os reinos, entretanto quando Kara tinha 3 anos sua mãe foi morta e nosso pai pensando no que ele achava ser melhor para ela e para o clã casou-se com uma das princesas do clã Clermon com o objetivo de gerar um herdeiro que fosse soberano sobre os dois clãs, unindo-os pelo sangue. Alguns meses depois eu havia nascido e minha mãe morrido no parto. Logo fui decretado herdeiro de ambos os clãs e para que Kara não perdesse seu posto eu me casaria com ela.

Nós dois crescemos juntos, ela era brilhante. Seu ataque, defesa, força e agilidade eram excelentes, simplesmente era impossível achar um ponto fraco em seu escudo, foi ela quem me ensinou tudo o que sei, não só sobre luta, mas sobre a vida. Ela e Bartolomeu estavam sempre a meu lado, auxiliando-me em meus treinamentos. Confesso também não ser tão forte quanto o esperado que eu fosse, eles sempre me venciam em nossas lutas, mas meu pai sempre aplaudia-me e levava-me nos ombrs, parabenizando-me pela evolução, mesmo que esta não existisse realmente. Assim Kara passava mais tempo enfiada na floresta treinando do que dentro do clã.

Anos se passaram, muitas mudanças, inclusive o atual controle dos Lafayete sobre a França e Kara estava cada vez mais afastada de nosso pai, suas brigas eram cada vez mais frequentes e apimentadas, lembro-me que certa vez eles quase chegaram a lutar. Eu ouvi-os discutir, como já tinha ouvido outras vezes, mas desta não aguentei e escondi-me atrás da porta na esperança de ouvi-los.

-Olhe para você! Está morrendo e vai deixar Armand como herdeiro! Isso é burrice! Ele é muito jovem e inexperiente! Nunca sequer participou de uma batalha de verdade, o mais próximo que chegou de uma foi ver-nos lutar na guerra contra os humanos na última década, se é que se pode chamar aquilo de luta!
-O clã é dele Kara! Já está decidido! Vocês se casaram e assim poderá ajudá-lo a tomar as decisões certas!
-Casar-me e ajudar este bastardo?! Está ficando louco! Não vou me casar com ele!
-Não fale assim! Isto foi decidido antes do seu tempo!
-Eu tenho direito de decidir com quem me casarei! Se escolhe-lo como herdeiro deixarei que este clã se afunde em sangue!
-Então parta, pois não a escolherei como herdeira!

Naquela noite Kara partiu. Só voltei a vê-la na noite em que meu pai foi assassinado. Ela estava ajoelhada ao lado de seu corpo, envolta e suja pelo sangue dele, seus olhos eram vermelhos e na mão carregava uma adaga de prata. Ela levantou-se quando percebeu minha presença. Olhei-a chocado.

-O que você...
-Armand... -Não deixei-a falar. Apenas parti para o ataque com uma fúria que não sabia que era capaz de sentir. Obviamente ela me venceu, eu estava preso sob seu poder a adaga que ela carregava arranhava meu pescoço com a pressão que ela exercia, eu não ousava respirar. Então ela me soltou e pulou a janela.

Ela teve a chance de me matar. O clã seria dela, porem não o fez. Não me matou. Eu sempre busquei um motivo para isso, mas nunca fui capaz de encontrar nunhum. Depois disso nunca mais vi Kara, pelo menos não de verdade. Algumas vezes pensei avista-la ao longe, como no enterro de meu pai, mas ela nunca chegou tão perto. Nunca apareceu de verdade. E essa é toda a historia.

--// Fim da narração de Armand//--

Depois disso não soube mais o que dizer a Armand, minha sorte era que estávamos parados na porta da "minha casa".
-Acho que é hora de dizer boa noite. -Disse abrindo o portão e entrando, mas ele segurou meu pulso fazendo-me olha-lo.
-Quando me contará sua historia Lane? -Perguntou sorrindo, pegando-me de surpresa.
-Logo. Boa noite Armand. -Disse carinhosa enquanto ele libertava meu pulso.
-Boa noite Lane. -Disse ele com nossos rostos tão proximos que podia sentir sua respiração leve em meus lábios. Fechei os olhos, mas quando abri-os Armand não estava mais lá. Suspirei e entrei as pressas, evitando Vladimir.

"O que são meros segundos para quem tem toda a eternidade?"

segunda-feira, 10 de maio de 2010

-Só de passagem-

Eram quase dez da noite quando sai batendo meus saltos pelas ruas de Paris. Meu destino era a mansão Lafayete, simplesmente o maior e mais poderoso clã vampirico da Europa, e eu fora convidada para jantar com ninguem menos que seu lider, minha presa e quase namorado. Acho que estou perdendo a noção do perigo.

O ar estava frio naquele fim de outono, cruzei os baços sobre o peito apertando o sobretudo e me apressei para chegar a grande mansão. Ela era mais parecida com aqueles castelos antigos, de muros e torres altos, arbustos e jardins extensos, e juro que podia ouvir um riacho não muito longe, provavelmente nos fundos da propriedade, quando parei observando-a os grandes portões gradiados abriram-se convidando-me a entrar. Não hesitei. Andei pela trilha de cascalhos que levava a mansão observando as sombras e me sentindo observada a todo o tempo. Agora sei como minhas vitimas se sentiam quando eu as perseguia. Agora EU era a presa e estava no territorio do caçador.

Chegando a porta um mordomo, provavelmente humano, abriu-a e ofereceu-se para pegar meu casaco, guiando-me em seguida a uma sala ampla, com poucos moveis e uma lareira.

-Monsieur Lafayete virá em breve. Posso oferecer-lhe algo?
-Não obrigado. -Respondi, e depois de fazer uma pequena reverencia ele se retirou. Aproximei-me da lareira, sobre ela estava uma antiga espada samurai japonesa, toquei com a ponta dos dedos, algo nela me era familiar.Virei-me ao ouvir alguns risinhos na porta. Duas crianças de olhos cor carmim me olhavam e riam tentando esconder-se no beiral da grande porta de madeira da sala. Uma menina e um menino, os dois entre seis e oito anos, cabelos e roupas negras em contraste com a pele muito branca. Vampiros. Eles desapareceram e seus risos pareciam invadir a sala, pareciam estar a minha volta, em toda parte. Girei procurando-os.

-Estou aqui! -Disse o menino puxando a barra de meu vestido de leve, porem rapido demais para que eu pudesse vê-lo.
-Mentira! Estou aqui! -Disse a menina tocando em meu ombro fazendo-me virar.
-Apareçam! -Minha ordem só os fez rirem mais e continuarem a me cutucar.
-Já chega. -A voz firme e autoritaria de Armand irrompeu no recinto fazendo as crianças pararem a meu lado.
-Pardon! -Disseram em unissono abaixando a cabeça.
-Deixem-nos. -Ordenou e as crianças desapareceram. -Desculpe, eles ainda agem como se tivessem 10 anos de idade.
-Quantos anos eles tem?
-150, 200. Não sei ao certo. -Depois desta pequena revelação precisei de um momento pra me acostumar a ideia de que aquelas crianças eram muito mais velhas que eu.
-E quantos anos você tem? -Perguntei depois de passado o choque.
-Muitos. Isso é importante?
-Não realmente. -Ele sorriu.
-Venha vou apresentá-la a alguns dos meus. -Disse ele esticando a mão, sorri e segurei-a deixando que ele me guiasse pelos enormes corredores, cheios de portas e belissimas obras de arte. Depois de atravessar um saguão ele fez um leve movimento com uma das mãos fazendo uma imenssa porta de madeira abrir-se revelando um comodo gigantesco com varios sofás, aparelhagem de som de ultima geração, piano, tv de tela plana e obras de artes, tinha em torno de dez vampiros lá, e a sala era quase que totalmente feita de vidro, proporcionando uma belissima vista do jardim, o riacho que tinha ouvido anteriormente passava por entre aquelas arvores.

Armand guiu-me até proximo alguns dos vampiros.
-Lane, estes são Charlotte e Ezequiel, meus primos, os que estão assistindo Tv são Claus, Vine e Luci, aqueles são Marcus, Paola, Jonathan, Alan, Anne e por último, meu irmão, Bartolomeu. -Dito o nome alguns vampios sairam do caminho dando passagem a um homem que sentava-se proximo a janela de vidro. Ele levantou-se e lentamente aproximou-se. Ele andava com extrema elegancia, balançando levemente os cabelos negro-acinzentados e longos, seus olhos tinham um tom de azul cinzento, que dava a ele uma aparencia um tanto demoniaca.
- Enchanté mademoselle. Tenho ouvido falar bastante em seu nome. -Disse ele fazendo uma reverencia desnecessaria para beijar minha mão.
-Enchanté. Espero que tenha ouvido somente boas coisas monsieur.-Respondi sorrindo.
-Não poderia ser diferente minha querida. -Disse ele compondo-se e trocando um olhar com Armand que continuava a sorrir a meu lado.
-Hey! Com licença! Armand sempre esquece de nos apresentar. -Disse a menina-vampira que me incomodava na sala a poucos minutos.
-Eu sou Rafael e esta é minha irmã Greta. Gostariamos de nos desculpar pela brincadeira de hoje mais cedo, é que achamos que seria divertido confundi-la um pouco. -Disse o menino apresentando-se da mesma forma que Bartolomeu havia feito.
-Você nos perdoa? -Perguntou a Greta apertando suavemente minha mão olhando-me nos olhos.
-Claro. -Disse retribuindo seu olhar.
-O jantar está servido monsieur. -Disse o mordomo entrando na sala.
-Já estamos indo. Merci. Vamos Lane? -Disse Armand me oferecendo o braço como os cavalheiros na era medieval. Segurei seu braço e fomos a sala de jantar.

Todo o clã estava sentado à mesa, Armand sentava na cabeceira, eu a sua direita e Bartolomeu a sua esquerda. Ao que parece a única que comia naquela mansão era eu, pois o único prato com comida era o meu, os outros apenas bebiam o que eu esperava ser vinho.
Der repente o som de palmas soa forte no recinto fazendo todos se calarem e o sorriso de Amand morrer.

-Não me espera mais para jantares tão especiais meu irmão? -Uma vampira com cabelos louro-branco e olhos vermelhos aparece na outra ponta da mesa de pé na cadeira. Seu vestido preto contrastava com o branco natural dos vampiros. Ela me olhou com um sorriso malicioso e sentou-se na cadeira com um movimento rapido que não fui capaz de notar. -Então. Não vai me apresentar a sua... Convidada?
-Lane está é minha irmã Kara Lafayete.
-É um prazer. -Disse eu educadamente, fitando-a.
-Acredite, o prazer é inteiramente meu. -Disse ela com o mesmo sorriso malicioso e olhar frio.
"Além da escuridão, além de tudo o que acredita.
Lá existe um mundo maior do que você jamais sequer sonhou"