terça-feira, 11 de maio de 2010

-Murder-

Depois da chegada da vampira denominada Kara o clima na mesa ficou tenso. Ela e Armand apenas se encaravam sem dizer palavra.

-Então meu irmão, o que andas fazendo? -Perguntou ela provando o vinho espesso.
-Nada que lhe apeteça. -Respondeu ríspido, encarando-a.
-Ora, onde estão os bons modos que até pouco demonstrava na presença dessa humana?
-Também não cabe a você julgar meus modos. Afinal, qual a finalidade desta sua visita? -Ela riu.
-Nada que lhe apeteça. -Disse imitando-o ao fita-lo maliciosa. Ele levantou-se e bateu as mãos em punho sobre a mesa, fazendo com que todos os olhares se voltassem pra ele.
-Saiam. -Todos os vampiros, menos as crianças e Bartolomeu levantaram-se e sairam. Olhei-o, mas ele não parecia me enxergar. Notei que seus olhos estavam vermelhos.
-É melhor se acalmar maninho.
-Ou o que? -Falou Armand entre dentes.
-Pode ser o lider deste clã, mas não esqueça quem te ensinou a lutar. -Falou ela ao pé de seu ouvido, tocando-o levemente no ombro direito. Ela tinha ido parar naquela ponta da mesa com um movimento que não fui capaz de notar.
-Tire suas mãos de mim Kara. -Disse ele segurando-a pelo pulso. Ela riu vitoriosa livrando-se e sentando sobre a mesa na frente dele, que virou-se para encará-la.
-Foi tolo se pensaste que lhe deixaria com um lugar que é meu por direito. -Disse ela.
-Esse clã nunca foi seu Kara. Eles o escolheram como sucessor. Não é algo que se possa remediar. -Disse Bartolomeu controlando a voz ao olha-la com os olhos vermelhos.
-Não desafie-me Bartolomeu. -Disse ela prendendo-o com o olhar.
-Deixe-o! -Bradou Armand com um urro furioso. Ela vagarosamente piscou desviando o olhar para Armand, porem eu tinha a ligeira sensação de que o fogo nos olhos dela dirigiam-se a mim, senti meu corpo encolher-se por instinto. Ele ao perceber pegou-a pelo pescoço, prendendo-a a parede. Ela riu.
-Não seja hipócrita! -Gritou ela fazendo-o tombar sobre a mesa em um movimento rápido demais para meus olhos. -Sempre fui e sempre serei a mais forte! E você Armand sempre será o filhinho mimado.
-Como ousa desafiar-me em minha própria casa?! Ficou longe por muito tempo Kara. Não sabe mais de nada! -Disse ele tentando levantar-se, porem, ela parecia mantê-lo preso por algum tipo de magia, eu não sabia se reagia em sua defesa ou se apenas observava como as crianças.
-Ainda conheço suas fraquezas. E ainda sou a mais forte. Lembre-se disso da próxima vez que for me desafiar. -Disse ela debruçada sobre ele. Logo após esta sumiu e Armand pôde se levantar.

Ele saiu da mesa de olhos fechados e respirando fundo enquanto nós o observávamos, quando abriu os olhos estes tinham voltado a seu azul escuro natural.

-Já tivemos agitação demais para uma noite. Acho melhor levá-la para casa agora Lane.-Disse ele olhando-me.
-Hum, tudo bem. -Despedi-me e logo após pegar meu casaco eu e Armand andávamos lado a lado na Champs-Élysées

-Então... Aquela era sua irmã? -Perguntei não conseguindo conter a curiosidade.
-Mais ou menos. Ela é mais como uma ex-noiva. -Respondeu ele ainda distante.
-Entendo. -Disse sem realmente entender. Ele olhou-me.
-É uma longa e complicada historia, Lane.
-Gosto de historias, e podemos ir pelo caminho mais longo. -Ele sorriu levemente, começando a contar a historia.

--//Narração de Armand//--

Eu nasci três anos depois de Kara, naquela época o clã Lafayete não era tão respeitado como hoje, ele não era sequer conhecido entre os humanos. Os vampiros eram conhecidos somente entre os vampiros e em nossa sociedade nosso clã era o mais antigo, seu herdeiro ganharia quase que poder total sobre os vampiros se não fosse por o clã Clermon ser mais forte.

Kara era inicialmente a herdeira Lafayete que casaria-se com Bartolomeu, um herdeiro Clermon, para promover a paz entre os reinos, entretanto quando Kara tinha 3 anos sua mãe foi morta e nosso pai pensando no que ele achava ser melhor para ela e para o clã casou-se com uma das princesas do clã Clermon com o objetivo de gerar um herdeiro que fosse soberano sobre os dois clãs, unindo-os pelo sangue. Alguns meses depois eu havia nascido e minha mãe morrido no parto. Logo fui decretado herdeiro de ambos os clãs e para que Kara não perdesse seu posto eu me casaria com ela.

Nós dois crescemos juntos, ela era brilhante. Seu ataque, defesa, força e agilidade eram excelentes, simplesmente era impossível achar um ponto fraco em seu escudo, foi ela quem me ensinou tudo o que sei, não só sobre luta, mas sobre a vida. Ela e Bartolomeu estavam sempre a meu lado, auxiliando-me em meus treinamentos. Confesso também não ser tão forte quanto o esperado que eu fosse, eles sempre me venciam em nossas lutas, mas meu pai sempre aplaudia-me e levava-me nos ombrs, parabenizando-me pela evolução, mesmo que esta não existisse realmente. Assim Kara passava mais tempo enfiada na floresta treinando do que dentro do clã.

Anos se passaram, muitas mudanças, inclusive o atual controle dos Lafayete sobre a França e Kara estava cada vez mais afastada de nosso pai, suas brigas eram cada vez mais frequentes e apimentadas, lembro-me que certa vez eles quase chegaram a lutar. Eu ouvi-os discutir, como já tinha ouvido outras vezes, mas desta não aguentei e escondi-me atrás da porta na esperança de ouvi-los.

-Olhe para você! Está morrendo e vai deixar Armand como herdeiro! Isso é burrice! Ele é muito jovem e inexperiente! Nunca sequer participou de uma batalha de verdade, o mais próximo que chegou de uma foi ver-nos lutar na guerra contra os humanos na última década, se é que se pode chamar aquilo de luta!
-O clã é dele Kara! Já está decidido! Vocês se casaram e assim poderá ajudá-lo a tomar as decisões certas!
-Casar-me e ajudar este bastardo?! Está ficando louco! Não vou me casar com ele!
-Não fale assim! Isto foi decidido antes do seu tempo!
-Eu tenho direito de decidir com quem me casarei! Se escolhe-lo como herdeiro deixarei que este clã se afunde em sangue!
-Então parta, pois não a escolherei como herdeira!

Naquela noite Kara partiu. Só voltei a vê-la na noite em que meu pai foi assassinado. Ela estava ajoelhada ao lado de seu corpo, envolta e suja pelo sangue dele, seus olhos eram vermelhos e na mão carregava uma adaga de prata. Ela levantou-se quando percebeu minha presença. Olhei-a chocado.

-O que você...
-Armand... -Não deixei-a falar. Apenas parti para o ataque com uma fúria que não sabia que era capaz de sentir. Obviamente ela me venceu, eu estava preso sob seu poder a adaga que ela carregava arranhava meu pescoço com a pressão que ela exercia, eu não ousava respirar. Então ela me soltou e pulou a janela.

Ela teve a chance de me matar. O clã seria dela, porem não o fez. Não me matou. Eu sempre busquei um motivo para isso, mas nunca fui capaz de encontrar nunhum. Depois disso nunca mais vi Kara, pelo menos não de verdade. Algumas vezes pensei avista-la ao longe, como no enterro de meu pai, mas ela nunca chegou tão perto. Nunca apareceu de verdade. E essa é toda a historia.

--// Fim da narração de Armand//--

Depois disso não soube mais o que dizer a Armand, minha sorte era que estávamos parados na porta da "minha casa".
-Acho que é hora de dizer boa noite. -Disse abrindo o portão e entrando, mas ele segurou meu pulso fazendo-me olha-lo.
-Quando me contará sua historia Lane? -Perguntou sorrindo, pegando-me de surpresa.
-Logo. Boa noite Armand. -Disse carinhosa enquanto ele libertava meu pulso.
-Boa noite Lane. -Disse ele com nossos rostos tão proximos que podia sentir sua respiração leve em meus lábios. Fechei os olhos, mas quando abri-os Armand não estava mais lá. Suspirei e entrei as pressas, evitando Vladimir.

"O que são meros segundos para quem tem toda a eternidade?"

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