quinta-feira, 7 de julho de 2011

-Verdades-

Depois de um dia inteiro no vagão de um trem cheguei a Roma, de lá pegaria um voo pra América. Estava certa de que as coisas dariam certo. Não demorei muito em Roma apenas parei em um bar pra comer uma pizza e beber um pouco d'água, logo entrei no avião e vi as luzes da Europa ficarem perdidas abaixo das nuvens. Recostei em minha poltrona pensando no que faria a seguir. Eu tinha que me manter incógnita, ninguém podia desconfiar de mim... Eu já tinha mudado o cabelo e tentava manter minha face sempre escondida, mas ainda precisava tomar cuidado. Nada poderia revelar minha identidade.

--// Alguns dias depois na França //--

-Já está na hora, Kara. Ele está vulnerável, sozinho. Se não agirmos agora os Teodore irão e então tudo estará acabado. - Disse-me Henry, mais uma vez tentando convencer-me a acabar com Armand. Eu sabia que ele estava certo, mas não podia fazer o que me pedia.
-Vladimir não fará nada. -Disse afastando-me dele.
-Vladimir não pode controlar todos os Teodore. O pai dele ainda é o líder e se achar que o filho não está fazendo um bom trabalho vai interferir. Por que não me escuta? - Não respondi. Não havia o que responder. -Eu desisti de tudo por você.
-Eu sei.
-Eu matei minha família por você, sacrifiquei tudo. Daria minha vida agora mesmo se assim me pedisse e mesmo assim... Mesmo assim...
-Shhhhh. -Disse colocando meu dedo em seus lábios. -Sempre brigamos quando o assunto é Armand, não vamos perder mais tempo com isso, certo? -Ele afastou minha mão de seus lábios e me segurou pelo pulso.
-Não. O que você quer afinal, Kara? Me diga e eu darei a você. Estarei com você seja o que for que você quer. Mas eu preciso saber o que estou fazendo... Então fale comigo. Fale comigo como falava antes. Quando éramos só nos dois. Me conte tudo. Confie em mim de novo. Por favor. -Beijei-o.
-Eu confio em você. Confio em você, Henry. Mas não quero matar Armand... Não agora... Não assim. Quando eu lutar com ele quero que seja de verdade. Quero ver o brilho no olhar dele. Quero a fúria. Preciso ver o quão forte ele se tornou. Se não for assim será apenas assassinato.
-Já parou pra pensar que outro grupo possa matá-lo antes?
-Não permitirei. Vou cuidar dele.
-Cuidar dele? Está se ouvindo falar? -Henry afastou-se de mim dando-me as costas.
-Ele é meu irmão, Henry...
-Engraçado como só agora você foi vê-lo assim... Sempre me falou de como queria destrui-lo, como ele não podia cuidar dos vampiros, que não sabia dominar Paris. Agora ele é seu irmãozinho?
-Você matou sua família e Lane continuou a te amar não foi? Talvez eu estivesse errada, talvez ele só precise de ajuda.
-Kara...
-Eu vou ficar ao lado dele, Henry. Pode vir comigo ou ficar sozinho. A escolha é sua. -Antes que eu alcançasse a porta ele me abraçou.
-Não vá. -Sussurrou em meu cabelo. -Estou com você. Estarei sempre com você. -Sorri e virei-me para beijá-lo, logo os beijos tornaram-se mais urgentes e mais uma vez ele me pediu para beber dele e eu bebi, depois abracei-o e cortei meu pulso deixando que ele bebesse de mim também. Meu sangue não o transformaria em vampiro a menos que ele morresse, mas o deixava mais forte, seus poderes podiam comparar-se as de um da nossa espécie, principalmente quando ele ficava com raiva. Um dia eu o transformaria. Depois que tudo isso passasse e então teríamos a eternidade.

Despedi-me de Henry com um último beijo e fui até Armand. Ele estava sentado na sala de visitas observando aquela maldita espada como costumava fazer desde que ela partira, ele não se alimentava, não saia, falava muito pouco, sequer me olhava nos olhos. Respirei fundo. Isso acabaria hoje.

-Sabia que não suportaria. Eu avisei aquele tolo que você era fraco. Falei a ele que seria a ruína desse clã. Lafayete era um tolo! -Disse da porta com meu sorriso sinico brilhando, foi o suficiente para fazê-lo olhar-me.
-Do que está falando? -Falou. A voz rouca parecia estar presa na garganta. Ele parecia fazer um grande esforço para falar.
-Você sempre me perguntou isso e agora não sabe do que estou falando? Do seu pai, é claro, não conheço ninguém mais tolo. -Acertei! Vi um leve brilho da antiga fúria queimar seus olhos. -Por onde quer que eu comece? Quer que eu lhe conte como ele me implorou que cuidasse de você? Como o sangue dele manchou minhas mãos, minhas roupas? -Ri. -Eu tinha vindo alertá-lo mais uma vez. Vim dizer que você era muito jovem que não suportaria. Eu estava certa. -Ele levantou-se.
-Cale-se. -Falou como um sussurro.
-Os olhos dele brilhavam com fúria enquanto lutava. Um ótimo lutador, devo admitir. Mas com uma grande derrota também...
-Cale-se. -Falou um pouco mais forte dessa vez. Os punhos estavam cerrados junto ao corpo, os olhos fechados, eu estava quase... Só tinha que cavar mais fundo.
-Ele chorou antes de morrer. Pediu para não deixar o pobre Armand sozinho. Cuide dele, Kara...
-Cale-se! -Dessa vez sua voz já estava bem mais alta, mas ainda não podia ver seus olhos. Eu sabia que só quando a fúria explodisse ele poderia seguir.
-Patético! Um homem tão talentoso morrendo afogado pelo próprio sangue! Implorando pela vida do filhinho! -Ri escandalosamente. -De que adianta ter sido um grande líder se não teve a honra na hora da morte. PATÉTICO! -gritei rindo.
-CALE-SE!!!! -Ele gritou e seus olhos arderam em uma chama carmim enquanto ele partia pra cima de mim, continuei a rir mesmo com sua mão apertando meu pescoço, ele atravessou a parede comigo e paramos na sala de jantar, acertou dois socos em minha face não revidei. Apenas continuei a rir alimentando sua fúria, mais uma vez ele me pegou pelo pescoço e bateu minhas costas na parede tirando-me do chão. Eu sentia o sangue na minha boca.
-Cale-se agora. -Sibilou ele. Seu rosto muito próximo ao meu. Cuspi o sangue em seu rosto ainda sorrindo. Ele apertou mais minha garganta e preparou-se para me acertar com o soco, não desviei, não fechei os olhos. Eu tinha leve consciência das pessoas que nos observavam. Rafael, Greta, Bartolomeu e Charlotte observavam da porta sem se meter. Eu já não conseguia respirar, mas isso é dispensável quando se é vampiro.
-Já chega Armand. -Ouvi alguém dizer, mas não reconheci a voz. Quem ele pensava que era para se meter? -Já chega. -Repetiu a voz. De uma forma mais urgente agora.
-Não se meta! -Eu e Armand falamos juntos. Eu como um sussurro e ele como uma ameaça.
-Faça, Armand. Termine com isso. -Disse olhando-o nos olhos, mas tinha algo ali. Algo que não era fúria.
-Me conte de novo, Kara. Conte como o matou. -Disse Armand afrouxando e depois apertando meu pescoço. Dei um sorriso sinico.
-É tão idiota que não conseguiu entender o que já contei? -Disse eu obrigando a foz a sair.
-Me diga como o matou! -Gritou batendo com minha cabeça na parede. As coisas ficaram embaçadas e aos poucos pontinhos de luz começaram a entrar em foco vagarosamente. -DIGA!
-Ela não pode dizer como fez isso! -Gritou a mesma voz de antes. Vladimir. O que esse imbecil estava fazendo?
-Foi uma emboscada. Os melhores lutadores de toda França contratados pelos Teodore. Eles mataram Lafayete. -Armand começou a soltar meu pescoço. Ri e chutei-o pra longe. Enviei um aviso mental a Vladimir para ficar fora disso.
-O que foi, Armand? É mole demais pra me matar? É mole demais pra vingar o papai? Precisa que ele venha te defender, Armand?! -Soquei seu rosto ainda um pouco tonta, ele veio por trás de mim e acertou-me fazendo com que caísse no chão e ficando em cima de mim prendendo minha garganta com ambas as mãos.
-Não foi ela. Você sabe! Sabe que ela não chegaria tão longe! Se não acredita em mim faça-a falar! Conte a ele, Kara! Fale a verdade!
-Cale a boca. -Falei sentindo Armand fraquejar. Eu não tinha força pra lutar com ele de novo.
-Vamos, Armand! Faça a pergunta certa. -Disse Vladimir a alguns passos de nós. Armand pareceu considerar por alguns momentos, ele sabia que eu não poderia mentir pra ele.
-Foi você quem o matou, Kara? -Pela primeira vez ele vez a pergunta certa. Ele não perguntou o porquê ou como. Ele perguntou se fui eu... Não respondi e ele soltou meu pescoço chorando, deixei que a cabeça tombasse para o lado e vi de relance Vladimir sorrir. Um sorriso verdadeiro pela primeira vez na vida dele.
"Algumas vezes mentimos para ferir, algumas vezes para proteger,
mas no final não importa pois quem sofre somos nós."

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